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O método mais antigo e usado na política é a intriga. Infelizmente esta virose tem afetado em muito o relacionamento entre lideranças. Os dicionaristas definem a intriga como ação de mexerico, cilada ou de traição, mas popularmente conhecida como fofoca.
A anatomia da intriga revela três elementos básicos: o intrigante, o intriguista e o intrigado. O Intrigante é geralmente pessoa de nível intelectual extremamente baixo, descontente com seus próprios feitos e realizações e que, por sentimento de inveja e de até ódio, procura prejudicar àqueles que têm a coragem de produzir e realizar em benefício da comunidade. O intriguista (veículo de divulgação e propagador) tem como característica principal uma frágil personalidade, permitindo facilmente sua manipulação pelo intrigante; outra premissa é a sua marcante incapacidade ou impossibilidade de avaliar a verossimidade das informações recebidas. O intriguista e intrigante jamais procuram a verdade dos fatos. O intrigado tem obrigatoriamente como qualidades natas a inteligência e o impulso de realizar, construir e criar, qualidades estas, que incomodam.
Na sua formação, a intriga requer uma estória com fatos contrários ao ideal e, principalmente, à realidade (ex.: o padre visita regularmente uma amante). No segundo momento requer, que ao ser repassada a estória, o intriguista esteja intelectualmente incapacitado, fisica- ou ideologicamente impossibilitado de captar a verdade nos fatos. No exemplo apresentado, dificilmente os paroquianos indagar-se-iam com o pároco sobre um seu possível relacionamento amoroso. É importante ressaltar, que a malha da intriga, jamais repassa a estória a alguém do conhecimento ou da amizade do intrigado, sob pena de a intriga ser esclarecida e perder assim seu efeito social, econômico e político. Há quem discuta também o efeito da intriga sobre o poder, mas existe: se ela não intenta em ganho de poder para o intrigante, implica em perda de poder para o intrigado.
Existe um comprometimento decisivo do intriguista na propagação da intriga. Ele desconfia da falsidade da estória e evita repassá-la para os íntimos do intrigado; no íntimo, deseja que ela prospere como se isto apagasse seus infortúnios pessoais. Portanto, consciente ou não, há sempre uma co-responsabilidade por parte dos intriguistas, até porque não possuem a habilidade nem mesmo de criar as suas próprias estórias e tentam embebedar-se dos efeitos da astúcia da obra alheia.
A intriga é, em essência, uma mentira estruturada. Kant definiu-a “como uma declaração intencionalmente não verdadeira feita a outro homem“ e que “prejudica sempre uma outra pessoa, mesmo quando não um outro homem determinado e sim a humanidade em geral, ao inutilizar a fonte do direito.”
Kant[1] é muito feliz ao expor as máximas sofísticas da mentira estruturada, embora que, os seus autores “sem dúvida não as exprimam em voz alta”:
1. “Fac et excusa. Apodera-te da ocasião favorável para te apossares de teu próprio poder. A justificação será exposta com muito mais facilidade e elegância, depois do fato” consumado, quando se tem tempo suficiente para dissimular a violenta posse da situação. Além do que, o se antecipar pela violência é bem mais fácil e sem necessidade de refletir ou de procurar motivos válidos e convincentes, tampouco se precisa vencer objeções dos que defendem o Direito. “Esta própria ousadia dá uma certa aparência de convicção interior à legitimidade do fato, e o deus bonus eventus é em seguida o melhor advogado.”
2. “Si fecisti, nega. Os delitos que tu mesmo cometeste, por exemplo, os que levaram teu povo ao desespero e à revolta, nega-os, declarando não teres a culpa deles; afirma, ao contrário, que a culpa é do humor desobediente dos súditos, ou também, se te apoderas de um povo vizinho, a culpa é da natureza do homem, que, quando não se antecipa ao outro em violência, pode contar seguramente que este segundo se antecipará e se apoderará dele.”
3. “Divide et impera. Isto é: se existem em teu povo certos chefes privilegiados, que unicamente te escolheram como seu chefe supremo (primus inter pares), desune-os um depois do outro e introduz a discórdia entre eles e teu povo; fica então ao lado do último, sob o pretexto mentiroso de maior liberdade, e assim tudo dependerá de tua vontade absoluta.”
E a conclusão de Kant em 1781: “Estas máximas políticas não enganarão a ninguém, pois são todas já universalmente conhecidas.” Mas a realidade é outra: estas máximas foram ao longo dos tempos estruturando a intriga, que também vem dizimando não só o Estado, como também a sociedade emergente, pela fragilidade da sua estrutura funcional.
A violência mais brutal na intriga é quando da revelação pública de seu enredo, por sequer envergonhar os intrigantes e intriguistas, mas tão somente o seu insucesso. E o maior absurdo é, como relata Kant, que “lhes resta sempre a honra política, sobre a qual podem contar com segurança, isto é, a honra do aumento de seu poderio, seja qual for o meio pelo qual o tenham conquistado.”
Enquanto o cidadão estiver em busca da verdade (por mais enveredada que estiver) estará sempre imune à intriga, mas enquanto colher as informações sob emoção, estará passível a ser manipulado como agente ativo da mentira estruturada, da intriga.
Acelino Pontes
[1] Weischedel, Wilhelm: Immanuel Kant, Werke in sechs Bänder, Wissenschaftliche Buchgesellschaft, Darmstadt, 1956-1964
eu tenho absoluta certeza que isso já aconteceu comigo ..parabéns,vlw
ResponderExcluirObrigado, Bruna.
ResponderExcluirFico feliz por ter gostado do essay.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirParabens pelo texto, muito bem elaborado!
ResponderExcluirAbraço!
Obrigado, Paulo César.
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